quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Humor do bom em Piracicaba

Neste sábado, 27 de agosto, às 20h, no Engenho Central, acontece a abertura do maior evento do humor gráfico no Brasil, o 38º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, que terá, na edição deste ano, de acordo com os organizadores, 395 trabalhos expostos só na mostra oficial, aquela que concorre a prêmios. Além das inúmeras paralelas que estarão dentro e fora do Engenho, onde acontece a mostra principal.
A visitação é gratuita e pode ser feita até o dia 16 de outubro, de terça a quinta, das 14h às 18h, de sexta a domingo e feriados, das 10h às 21h – é possível ver a programação completa e outras informações no site www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br ou no blog salaodehumor.blogspot.com.

Cartaz oficial do 38º Salão Internacional de Humor de Piracicaba
Sempre se fazem presentes tentativas de autopromoção e promoção política por meio do Salão. Entretanto, quando tomamos conhecimento de seu histórico, nota-se que este evento não é mérito, nem de uma, nem de outra administração política, mas sim de sua própria história e origem. Nascido em meio à ditadura militar no Brasil, tudo começa com uma reunião entre a “patota do Pasquim” – como eram chamados os colaboradores deste jornal que sempre deu lugar ao humor gráfico e tem seu nome escrito na história como o principal suporte nacional deste gênero – e representantes da cultura de Piracicaba, para discutir a criação de um evento que privilegiasse o humor gráfico.
Para ter uma ideia, essa primeira reunião contou com nomes como Millôr Fernades, Jaguar, Ziraldo, Zélio Alves Pinto – este que dá nome ao troféu de premiação do Salão, o “Zélio de Ouro” –, entre outros envolvidos na organização. Isso nos dá uma dimensão da importância do evento não só para a cidade, mas para o humor gráfico no Brasil. Aliás, a primeira edição premiou o então jovem cartunista Laerte, ainda na ativa e que sempre cita o Salão em entrevistas.

Obra de Laerte premiada no 1º Salão de Humor de Piracicaba (1974)
Embora pareça não ter mais o mesmo glamour de outros tempos, o Salão de Piracicaba ainda ostenta a marca de “o maior e mais importante evento do gênero no Brasil”, sempre expondo alguns trabalhos dos “figurões” do humor, e também dando espaço a artistas não tão conhecidos de todas as partes do mundo. Além disso, no evento de abertura, sempre é possível contar com a presença de alguns desses “figurões”; ninguém garante, mas alguém sempre aparece.
Por ter tido origem em plena Ditadura Militar, é impossível ignorar a presença e importância do conteúdo político nas mostras. E isso pode ser encarado como o cumprimento de uma das funções do humor, já apontada em outros tempos pelo filósofo Vladmir Propp: “O riso é uma arma de destruição: ele destrói a falsa autoridade e a falsa grandeza (...)”. Por aí compreende-se a importância que o humor gráfico teve (e tem) nos veículos de imprensa, habitat natural deste gênero e lugar onde, hoje, ele circula livremente, mas nem sempre foi assim.
É certo que, por alguns anos, o Salão pareceu sobreviver apenas de sua história. Em outras palavras, ocorreu um lapso de “sem-gracice” no Salão que durou alguns anos – mais ou menos, a partir de 1999, se minha memória estiver colaborando – época em que sugeriu-se até que o Salão saísse de Piracicaba. Entretanto, a partir de 2007 ou 2008 – novamente peço perdão pela falta de precisão –, houve um novo salto de qualidade. E esta qualidade se manteve numa crescente até a última mostra, o que nos desperta uma curiosidade sem tamanho pela que virá a partir deste final de semana.
Da mostra atual, gostaria de destacar que, para a abertura, segundo Adolpho Queiroz, presidente da edição deste ano, está programada a distribuição de caricaturas da atual escalação do XV de Piracicaba, feitas pelo piracicabano Erasmo Spadotto, uma homenagem às conquistas do time e também, parafraseando o mesmo Queiroz, parte de um esforço para “piracicabanizar” o Salão.
Dentro dessa mesma perspectiva de enaltecer a cidade, uma das paralelas, na Biblioteca Municipal, terá um acervo de JIC Mendes, considerado o primeiro cartunista de Piracicaba, que teve seus trabalhos publicados pelo jornal A Noite, de São Paulo, já na década de 40.

Obra de JIC Mendes publicada no Jornal A Noite na década de 40
Outra paralela que merece destaque é uma mostra de Cartuns iranianos. Sempre presentes no Salão de Humor, desta vez, os iranianos ganharam destaque. Quem sabe assim nós, simples mortais, não conseguimos finalmente entender o que eles querem dizer?!
Enfim, meus caros, até sábado, às 20h, no Engenho Central. 

PS: Vale a pena acessar o site www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br, sobretudo devido aos vídeos ali contidos, que contam um pouco da história do Salão, inclusive com imagens da primeira edição.

* Este post foi uma colaboração do grande amigo Roberto Sgarbiero, músico e graduado em letras.

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